Família Petrelli

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Sudão – o povo vai às urnas para decidir o futuro do país

Sudão – o povo vai às urnas para decidir o futuro do país

Já reparou o número de matérias publicadas sobre o Sudão na mídia internacional nas últimas semanas? Pelo que parece, os olhos do mundo estão voltados para essa nação africana. O maior país da África passa por um referendo pelo qual os povos do sul estão decidindo se desejam ou não a independência do norte. O resultado está previsto para ser anunciado, no máximo, até o fim da primeira quinzena de fevereiro. Se o desejo de independência for confirmado (de acordo com as pesquisas de boca de urna, 98% da população é favorável à independência) o mundo assistirá ao nascimento de mais uma nação africana.
A verdade é que antes mesmo da organização do referendo o povo sudanês já lidava com um cenário de divisão, o qual afetava a vida tanto dos nacionais como a dos estrangeiros. Para exemplificar o que estamos falando, pense num turista que vai a um escritório de representação sudanês em busca de visto para visitar o país. Se ele obtiver êxito, receberá como autorização uma espécie de visto regional.
A complexidade está no fato de que se o visto for concedido pelo governo do sul ele não dará ao turista o direito de visitar o norte do país. O visto para visitar o
norte precisa ser aplicado junto ao governo do norte, num outro escritório de representação. O clamor por independência do sul vem de longa data, estendeu-se durante as décadas de guerra civil e se consolidou nos últimos 6 anos, desde que um acordo de paz foi assinado entre o norte e o sul em 2005. A tentativa de imposição do Islamismo por parte do governo de Cartum, capital do norte, foi o fator primordial para alimentar o desejo de independência das tribos do sul. No
princípio, muitos interpretavam a tentativa de transformar o Sudão num país muçulmano, bem como num país árabe, como uma forma de resposta popular aos anos de colonização sob o jugo da Coroa Britânica. Todavia, não demorou muito e diversas tribos africanas, principalmente as do sul, passaram a reclamar da intensidade da imposição religiosa e cultural, comparando o comportamento dos árabes a uma nova forma de imperialismo. Por não se submeter à imposição do Islamismo, que se utilizava tanto de uma estratégia de islamização quanto de arabização, o
povo se sentiu no direito de reagir. Principalmente as tribos do sul, de origem animista, preferiram se aliar ao Cristianismo a se submeter à dominação árabe.
É interessante observar que até mesmo as tribos originárias de outras regiões do país, que assimilaram o processo de islamização, ainda hoje reclamam da postura do governo: “Nós não somos árabes. Na verdade, fomos feitos árabes”, comenta um sudanês que lidera iniciativas para resgatar a identidade cultural e linguística de sua etnia.
Não obstante o desejo popular, cortar oficialmente os laços com o norte não será um processo fácil e terá implicações em diversas áreas da vida do povo do sul. Um aspecto cultural que vem preocupando os sulistas que vivem no norte do país é com respeito aos corpos dos antepassados que lá foram enterrados. De um modo geral, na cultura africana é muito comum os mortos serem enterrados junto à sua tribo para que o espírito do ancestral proteja a comunidade. Logo, se tiverem que abandonar suas terras no norte e voltar para o sul, a grande pergunta é: o que será feito dos corpos dos antepassados? Seria o caso de desenterrar os restos mortais a fim de que
acompanhem as famílias que retornam para o sul?
Enquanto aguarda pelo anúncio oficial do resultado do referendo, a comunidade internacional demonstra preocupação pelo futuro do Sudão. Além de apreensão com o estado de extrema pobreza no sul do país, teme-se a possibilidade de Cartum não aceitar a decisão do sul de se separar, o que provavelmente daria início a novos conflitos, promovendo a morte de milhares de sudaneses. O futuro do Sudão também reserva enormes implicações para o trabalho missionário mundial. O governo já anunciou que se a independência do sul se confirmar, o norte irá intensificar a
aplicação da lei islâmica (Sharia), o que afetará muçulmanos e cristãos localizados no norte. As implicações não param por aí. O que é ainda mais preocupante é o fato de que a maioria dos cristãos do Sudão é originária do sul do país. Com a divisão da terra, a tendência é que um grande número de cristãos que vive no norte retorne ao sul (na verdade, esse processo começou antes do início do referendo). Teoricamente, esse êxodo provocará um grande enfraquecimento da Igreja de Cristo presente entre os muçulmanos do norte do país. Sendo assim, o desafio de comunicar Cristo aos muçulmanos do norte do Sudão será ainda maior, o que possivelmente transformará
essa região do mundo num dos principais desafios missionários dos nossos dias.

Fonte: Revista Transformando à África, edição de verão, 2011.

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